quarta-feira, 24 de setembro de 2008

a chegada demorada

Ando a chegar aos poucos, devagar. Ainda devo ter algumas partes sobre qualquer parte interior de África, que ficaram retidas nos ventos do deserto, ou sobre as árvores das florestas tropicais, porque não me sinto completo nem totalmente acordado. Pronto, voltei e a cidade é bonita e matar saudades é bom, mas quando é que acordo? Ainda não me sinto de olhos mesmo abertos. Ainda não me vejo totalmente sobre a terra, e Lisboa tem-me parecido como um óptimo lugar para férias. Mas o que querem? Sinto-me distante daqui, desta realidade, deste modo de viver, sinto-me estrangeiro, peregrino, inadaptado. Não é que não o sentisse antes, mas agora é mais visível e verdadeiro este sentimento. Ando a perceber a minha natureza e de facto não é esta. Não me sinto a construir. Não me sinto a sonhar aqui. O que sonho e me entusiasma fica muito longe, noutros olhares e noutros gestos. Noutros cheiros e noutra neblina matinal, noutra sombra fresca, sem alcatrão e passeios e sinais de trânsito. Sem este barulho constante, e acima de tudo, sem pressas.
Será isto mau? crei que não, mas que não é fácil, isso acreditem que não é. O mais difícil de partir é voltar. Saber-se diferente, saber que nada será o mesmo, e conseguir transformar o momento presente de acordo com o que vamos sendo. Às vezes parece que ninguém percebe que estamos diferentes. É um bocado como se fossemos invisíveis. Muito poucas pessoas nos olham com um olhar renovado e descobridor. Temos uma imagem que já não nos representa, mas o mundo, com as suas preocupações e ocupações, não repara. E o que é que podemos fazer? Seguir em frente, e querermos voltar à nossa verdade, que de facto agora não passa por aqui.
Onde estarei eu neste momento? Algures à sombra de uma árvore, a ver passar o tempo e a vida.

sábado, 13 de setembro de 2008

a lua encheu novamente

A janela ainda aberta faz entrar o luar. espreito e vejo outra vez uma lua cheia e luminosa. Como me lembro dessa lua cheia de Moçambique, nesse céu onde mesmo a lua cheia não esconde todas as estrelas, como aqui.
Vejo o que está à minha frente, lá fora e cá dentro. Os prédios, os livros, o espaço. E sinto ainda um olhar de estranheza, Parece-me que ainda não cheguei completamente a esta casa que é a minha. Tudo me parece sem horizonte e sem ritmo. É estranho acordar já com o dia nascido. Faltam-me as árvores e o ar fresco a entrar pela janela do carro logo pela manhã. Faltam-me as pessoas, os pensamentos e projectos, o assistir diariamente ao crescimento de algo.
Agora que olho por um tempo a lua, sei que está também cheia sobre Manjacaze e Macasselane, sobre a casa dos meus amigos, de uma nova família, num sentido afectivo e bondoso. Sei que o telhado da nossa nova construção brilha com a luz do luar.

Fico então à espera que o resto de mim vá chegando.
Talvez uma parte não volte, como esperança de regressar.
Lá onde fiquei, mesmo depois de vir.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Macasselane e o Mar da Palha

O dia quase a começar. As luzes da grande Lisboa ainda acesas. o sono da viagem misturado com a visão bonita da chegada a casa. A uma das casas, parece-me. Que agora ando com muitas pátrias e moradas cá dentro.
E as memórias da minha aldeia e do meu trabalho, que ainda hoje me fazem olhar pela janela á espera de ver um cajueiro e o caminho rumo a Macasselane.
hão-de chegar aqui ainda algumas imagens, e o pombo ainda continuará a ter a mandioca por companhia.