quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Imagens algo explicativas e palavras, não tão explicativas

Aqui vão algumas fotos, seguidas de textos:
Ora já cá cantam as paredes feitinhas! Quem diria, hem? reparem na proporção da fachada principal, na geometria do conjunto e no ritmo de abertura de vãos. um clássico actual, diria eu. Aqui efectuam-se os chamados arranjos exteriores, com o abate de árvores velhotas e doentes, no chamado método tradicional de desbaste profundo, ou seja, corte total.
Aqui é já sábado no fim da manhã!!! Oh que perspectiva gloriosa! oh que perfeição de acabamentos!oh que peso têmelas asnas,para as colocar lá em cima! reparem ,aqui já temos quase meio telhado!
25.08.08
Três dias intensos de significados e mistérios. Deus é inesperado, intenso e frontal. E feliz. e doloroso, e a sua presença inquietante.
Hoje, ao caminhar com a mamâ Alice ela dizia sobre a construção de Macasselane: “Deus está. Deus caiu aqui”. A imagem de Deus a cair no meio da aldeia, com uma construção quase concluída e as galinhas á solta não deixa de ser interessante. Mas de facto é verdade. Deus está, e, misteriosamente, caiu ali.
Ora sexta-.feira finalmente chegou o carpinteiro, para fazer o telhado. Lá vamos nós, seguidos pela carrinha com o material, que por sorte avariou mesmo perto da obra, o que mesmo assim não nos livrou de carregarmos barrotes e chapas de zinco uns bons metros. Tudo se tem de fazer…
Sábado, grande dia, longo e feliz. Iniciámos o trabalho às seis da manhã. Ver nascer o sol em Macasselane, por detrás das árvores, e a luz poeirenta a descer da copa das árvores até ao chão, iluminando os caminhos, as palhotas, as cercas e as machambas. Depois, trabalho! Ora bem, como podería os nós colocar duas asnas pesadas e grandes lá em cima, onde devem ficar? Que método engenhoso, moderno e inesperado? Claro está que eu ainda duvido do que não deveria já ter dúvidas, porque sim, é possível colocar duas asnas a três metros de altura com seis homens e uma escada de bambu, cujo aspecto não oferece uma réstia de confiança. Mas não é que foi possível? Ainda nem percebo como, e já lá vão dois dias. Depois foi ajudar a colocar todos os barrotes e as chapas de zinco. E tínnhamos nós um telhado ondulado e brilhante à luz do sol. O trabalho prolongou-se pelo dia fora, e como esparávamos o fr. Xavier, fomos ficando à conversa, e o dia tornou-se por do sol, e depos crespusculo e depois um céu laranja forte, e depois estrelas. Em pé, em volta de uma fogueira, lá fomos ficando a aquecermo-nos, na conversa. Rodeados de escuro e sombras. Que noite feliz, ali, e que viagem de regresso, sentado com o sr. Francisco, o carpinteiro, e o Tiago, ajudante, na caixa aberta da carrinha, a caminho de casa, ao vento e ao frio da noite, a ver o céu e as árvores iluminadas pelo carro, como na noite da chegada. Que sensação de liberdade, de paragem do tempo, de horizonte, de que muito é possível. Que dia! Que dia! Ver finalmente o telhado a ser colocado, chapa a chapa, e o interior do refeitório cada vez mais ensombrado e fresco, à medida que o dia ía ficando cada vez mais quente. A felicidade das mamâs e dos papás, a nossa cara de alegria ao ver a obra a ganhar forma e cobertura. Como é possível construir uma casa com boa vontade e muito trabalho ainda me deixa impressionado.
Cheguei a casa cheio de frio, sujo, cansado, poeirento, despenteado e muito feliz. Quanto mais sujo mais contente!
Como a vida tem muita coisa que nos faz parar, pensar e rezar, uma notícia muito triste esperava-me ao serão. O domingo teve a benção de começar com uma missa ainda mais bonita que o habitual, porque houveram danças e muita música, o celebrar missa o padre Ítalo ,vindo de Itália, e a comunidade querendo fazer festa. Deixo à imaginação de cada um a beleza e a vivacidade de toda a celebração. Ajudou-me a viver a tristeza de modo profundo, reconciliador e esperançoso. A tarde foi dura, difícil, mas reparadora ao mesmo tempo. Tenho a consciência de que muita coisa não percebo, mas que o grande mistério da vida pertence ao campo da própria origem e sentido do mundo, e que esse mistério só pode ser vivido em comunhão rezando, quer seja a chorar, cantar, dançar, calar. Sobre esse lado da vida que aqui vivo intensamente, e sobre essa tarde de confronto e dolorosa, fica uma memória ainda demasiado difusa, que sinto ter ainda de assentar e encontrar o seu lugar em mim. As palavras não dizem nada ainda.
Hoje, segunda-feira, dia 25 de Agosto do ano da Graça de 20078, houve festa em Macasselane. Festa de inauguração do refeitório, festa em almoço entre todos os trabalhadores da construção, festa com boa comida e bebida, muito merecidas, festa com dança, música, alegria e muitos motivos para agradecer. Um trabalho comunitário, feliz, com futuro e esperança. Um bom exemplo para o mundo. Oxalá aconteça o mesmo por esse mundo fora.

Um comentário:

Xana disse...

Uau! Fantástico!
O que mais me admira é a velocidade com que conseguiram erguer tamanho edifício!Não sei como ficou o isolamento mas tem um aspecto fresquinho, por isso não vais precisar de máquinas de ar condicionado.eheheh
Podes começar a cantina, tás aprovado.

Beijoca